2 de novembro de 2012, dia de finados. Desde que me entendo por gente lembro que chove neste dia e ontem não foi diferente. Fui cobrir um aulão de revisão pra prova do ENEM, que acontece neste fim de semana. Quase 500 jovens acordaram cedo, com aquele tempinho chato, pra tirar as últimas dúvidas sobre a prova mais importantes de suas vidas. Os professores, nenhum aparentando ter mais de 40 anos, tentavam fazer da aula um momento de descontração. Eram brincadeiras, dinâmicas e palestras motivacionais. A penúltima destas palestras foi ministrada por um senhor de muita idade - não era professor - que caminhava de bengala, porém tinha um olhar muito perspicaz. Esse senhor fora concentrado no campo de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. Eu, preocupado em filmar, não pude prestar atenção em todo o seu discurso, mas ele ficou preso naquele lugar por quatro anos quando criança. A ideia da palestra era contar uma história de superação àqueles jovens e mostrar que desistência não é a melhor opção. Quando achei que já tinha um número razoável de takes, sentei pra assistir. Não lembro de tudo dito por ele, até porque me concentrei apenas nos minutos finais, mas vou tentar reproduzir a aula de vida dada por aquele senhor.
A primeira lição que lembro dada por ele é que não importa a camisa que vestimos, ou a calça, gravata, sapato. Ele passou quatro anos com a mesma roupa, sem tomar banho, e chagas cobriam seu corpo por conta da coceira que sentia. Fome era algo constante. As pessoas morriam a sua volta todos os dias e uma das coisas que ele mais se arrepende é de não ter dito ao pai quanto o amava, pois presenciou a morte deste ente querido e nunca poderá dizer o amor que sentia por ele. Pediu pra falarmos aos nossos pais o quanto os amamos, sem medo, mesmo que eles já saibam disso. Durante a Guerra as pessoas eram divididas por raças: judeus, negros, germânicos... mas que na verdade a única raça que existe é a humana. Os animais, estes sim, são divididos em raças de equinos, caninos, suínos... e os que são racistas pertencem a estas raças, em especial a dos suínos.
Não consigo lembrar o que veio antes destes dizeres, mas com certeza foi extraordinário pois, quando a palestra chegou ao final, todos aplaudiram de pé. Todos.
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