Faz quase quatro anos que publiquei meu último texto neste blog - que não necessariamente é o que segue logo abaixo, já que apaguei quase todos deixando apenas os que mais significam pra mim, por uma razão ou outra - e, depois desse longo período, resolvo voltar a escrever. Muita coisa aconteceu nesse tempo. Pessoas entraram na minha vida, pessoas saíram da minha vida. Deixei lugares e conheci muitos outros novos. Enfim, não sou mais aquele que retratava neste blog, com o ardor do coração, coisas do meu então cotidiano. Deixei a poesia de lado. Deixei um pouco da música de lado. Deixei boa parte do meu cabelo de lado. Mas, em contraponto, ganhei algumas coisas. Tirando ''alguns muitos'' quilos a mais e certas vicissitudes, ganhei experiência de vida. Vi coisas. E ainda vejo coisas da vida. Pra quem não sabe, me tornei repórter cinematográfico de uma grande emissora de TV. Digo ''grande emissora de TV'' pois não pretendo dar nomes a pessoas ou citações. Os que me conhecem sabem onde trabalho e com que pessoas convivo, e isso basta. São três anos de carreira - entre estágio na faculdade e a atualidade - em um emprego que considero privilegiado. Privilegiado sim, apesar dos pesares. Mas não vou entrar em detalhes. E o que almejo aqui é contar um pouco da minha rotina, que não existe, já que muitas pessoas me sugeriram que o fizesse. Talvez seja interessante, talvez um pé no saco.. Talvez.
Não tenho condições de contar coisas que aconteceram nesses últimos anos, infelizmente. Então começo por ontem, dia 29 de outubro de 2012. No fim de semana anterior um jovem fora assassinado em Cordovil por PMs que confundiram o som do estouro do pneu do carro dele com o de um tiro. Absurdos à parte, fui cobrir o enterro do rapaz. Fazia tempo que não ia a um enterro tão cheio. Digo isso pois, desde que comecei a trabalhar, ir a enterros tornou-se comum. O rapaz devia ser bastante querido. Muita gente chorando, revoltada. Lá pelas tantas, começa uma gritaria e logo ligo a câmera. Era a mãe do falecido, inconsolável, sendo carregada pra fora da capela. Trastornada, ela pedira, sem êxito, pra que não fechassem o caixão. Começa o cortejo. Um sol terrivelmente forte em Irajá, mas nada parecia se sobrepor à dor da perda. No momento de selar o túmulo, aplausos e clamores por justiça. Quando os gritos diminuíram escuto a mãe implorar ''não fecha, não fecha! Ele é alérgico e vai ficar espirrando com o calor!'' Aquelas palavras socaram minha cabeça de tal maneira que chorei. Chorei mesmo não podendo me envolver com a notícia, mesmo tendo que continuar meu trabalho. Não sei se os policiais vão ficar presos por muito mais tempo. Não sei se a corporação passará por reciclagem, se receberá melhor treinamento. Mas sei que a perda daquela mãe nunca será suprida. E também sei que aquela cena nunca mais deixará minha mente.
Um comentário:
Apesar da notícia triste que já sabia. Foi um belo texto. Queria saber escrever como você! Abração.
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