domingo, 9 de novembro de 2008

Flâneur

A cidade do Rio de Janeiro é algo peculiar. Apesar de ser uma metrópole mundial, o Rio tem algo que tantas outras famosas não têm: o carioca. Indivíduo caricato e, ao mesmo tempo, de múltiplas faces. A começar pela origem "liquidificadorizada". É um mix índio-íbero-anglo-franco-germânico-africano. Algo raro por essência e por influência. E o lugar mais que perfeito para encontrar essa jóia de nossa terra é o berço da boemia, da malandragem, o lugar que faz Baudelaire revirar no túmulo por não ter conhecido e aproveitado. A Lapa.
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Estou longe de ser como o flâneur de Baudelaire, mas sofro muito de sua influência. Sou um observador nato. Não consigo controlar, é mais forte que eu. E deve ser por isso que quem me conhece fala que sou muito calado. Está aí o diagnóstico!! Sinto prazer em observar a figura e o comportamento alheios em todo tipo de situação (leitor, não me confunda com voyeur, por favor). O centro da cidade de dia e a Lapa à noite são laboratórios para pessoas como eu. Mas vou me focar, pelo menos neste post, apenas na Lapa.
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A quantidade de figuras multifacetadas encontradas naquele lugar é surpreendente!! É uma Babel plana que tem como monumento os arcos, cada um servindo como portal de entrada para diferentes tribos. A convergência é total e resulta numa única figura:
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jovem-velho-rico-pobre-mendigo-hetero-homo-bi-funk-samba-rock-soul-hip-hop-black-moda-alternativo-casual-from-Florida-moro-em-Marechal-fácil-difícil-charme-sexy-quanto-é-o-programa?-só-vim-pra-dançar-me-beija-logo-álcool-cigarro-drogas-coca-cola-primeira-vez-que-faço-isso-minha-cabeça-tá-rodando-tira-a-mão-do-meu-bolso-grita-polícia-te-levo-pra-casa-mais-cerveja-aqui-é-o-melhor-lugar-do-mundo!
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Depois de sair de lá dá para sentir - por mais que tenha vezes que não dê para lembrar no dia seguinte - a experiência boêmia que é freqüentar a Lapa. Acredito que quem já foi ao menos uma vez saiba do que estou falando. E se você, leitor, ainda não foi, ponha uma ida à Lapa na sua lista das "25 coisas que quero fazer antes de morrer (ou casar)".
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sábado, 3 de maio de 2008

Família

Nem sempre a família da gente é a família da gente. Não basta ter laços consangüínios ou documentos que comprovem a familiaridade. Um familiar pode ser qualquer pessoa, por mais distante geneticamente que ela seja de você. O que é preciso, de fato, é ser família. É um estado.

Sempre há aquela pessoa, parente ou não, que você vê uma vez a cada três meses, porém você a considera mais que a um irmão. E sempre há aquela pessoa que participa da mesma árvore genealógica que você, porém você não suporta passar míseros cinco minutos ao lado dela. Há parentes que mutuamente se tratam como "visitas", com distância que nem visitas e anfitriões teriam, e há parentes que na frente dos quais você desfila de cuecas e meias às 4h30 da madrugada comendo as sobras da pizza do dia anterior. Há pessoas que sabem mais sobre você em seis meses de convivência do que seus pais souberam em 25 anos. Há pessoas que te dão roupas de presente, e há pessoas que pegam suas roupas e ainda reclamam quando você as pega de volta. Há pessoas que te cumprimentam nas festas de fim de ano apenas pelo fato de terem o mesmo sobrenome que você, e há pessoas que, por mais que você só curta MPB e rock 80's, te chamam pro baile da Furacão porque fazem questão da sua companhia.

O que é uma família? Não sei.
Mas acredito que seja o conjunto de pessoas que você escolheu para fazer parte da sua vida. E você das delas.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Bem-Vindos

Esse é um blog pra divulgar os textos que faço …
Espero que curtam!



- Não sei.
- Como assim, “não sei”?
- Como “como assim”? Eu simplesmente não sei. Não sei o que vou escrever.
- Mas você ganha para fazer isso. Escrever. Esse é o seu ofício. Além do mais, você faz isso, e muito bem feito, há anos.
- Eu sei. Mas dessa vez eu não consigo produzir nada. A idéia não vem de jeito nenhum. Fico horas ao computador e nada. Nada.
- Mas você já tentou ler alguma coisa, ouvir alguma coisa, ver alguma coisa para se inspirar?
- Inspiração não falta. O meu problema não é o dizer. O meu problema é dizer sobre o que. O que me falta é tema. Nos meus contos eu já falei de praticamente todas as coisas da vida: amor, traição, trabalho, dinheiro, comportamento, sexo, justiça, saúde, segurança, comida, bem-estar, mal-estar ... sei lá ... de tudo. Todas as coisas que cercam a minha vida e a vida dos que me cercam eu já retratei de alguma forma. Eu simplesmente não sei sobre o que escrever.

Silêncio

- Mas e ai?
- O quê?
- Como vai ser? Sobre o que você vai escrever?
- Não sei! Isto está me deixando angustiado de tal forma que parece que vou explodir. NÃO SEI SOBRE O QUE ESCREVER!!!
- Não adianta, você vai ter que escrever alguma coisa, nem que seja sobre a falta do que escrever.
- É por isso que eu te amo!