A cidade do Rio de Janeiro é algo peculiar. Apesar de ser uma metrópole mundial, o Rio tem algo que tantas outras famosas não têm: o carioca. Indivíduo caricato e, ao mesmo tempo, de múltiplas faces. A começar pela origem "liquidificadorizada". É um mix índio-íbero-anglo-franco-germânico-africano. Algo raro por essência e por influência. E o lugar mais que perfeito para encontrar essa jóia de nossa terra é o berço da boemia, da malandragem, o lugar que faz Baudelaire revirar no túmulo por não ter conhecido e aproveitado. A Lapa.
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Estou longe de ser como o flâneur de Baudelaire, mas sofro muito de sua influência. Sou um observador nato. Não consigo controlar, é mais forte que eu. E deve ser por isso que quem me conhece fala que sou muito calado. Está aí o diagnóstico!! Sinto prazer em observar a figura e o comportamento alheios em todo tipo de situação (leitor, não me confunda com voyeur, por favor). O centro da cidade de dia e a Lapa à noite são laboratórios para pessoas como eu. Mas vou me focar, pelo menos neste post, apenas na Lapa.
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A quantidade de figuras multifacetadas encontradas naquele lugar é surpreendente!! É uma Babel plana que tem como monumento os arcos, cada um servindo como portal de entrada para diferentes tribos. A convergência é total e resulta numa única figura:
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jovem-velho-rico-pobre-mendigo-hetero-homo-bi-funk-samba-rock-soul-hip-hop-black-moda-alternativo-casual-from-Florida-moro-em-Marechal-fácil-difícil-charme-sexy-quanto-é-o-programa?-só-vim-pra-dançar-me-beija-logo-álcool-cigarro-drogas-coca-cola-primeira-vez-que-faço-isso-minha-cabeça-tá-rodando-tira-a-mão-do-meu-bolso-grita-polícia-te-levo-pra-casa-mais-cerveja-aqui-é-o-melhor-lugar-do-mundo!
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Depois de sair de lá dá para sentir - por mais que tenha vezes que não dê para lembrar no dia seguinte - a experiência boêmia que é freqüentar a Lapa. Acredito que quem já foi ao menos uma vez saiba do que estou falando. E se você, leitor, ainda não foi, ponha uma ida à Lapa na sua lista das "25 coisas que quero fazer antes de morrer (ou casar)".
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